segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sobre vinhos e pessoas...

Inútil seria a tentativa de precisar, com acuidade, a frequência com que nos utilizamos de metáforas, comparações e sinestesias de referencial humano para descrevermos as sensações e percepções suscitadas pelo vinho. Um vinho verde fresquinho pode ser extrovertido e alegre. Um tradicional Pinot borgonhês pode ser intelectual e sensual. Um Shiraz australiano pode ser explosivo e raivoso. Há vinhos honestos, vinhos nobres e vinhos meditativos.
O rótulo, o rosto do vinho, é o cartão de visitas. Se recebemos uma careta, nada feito. Um sorriso convidativo, por outro lado, nos cativa e, antes de nos darmos conta, começamos a trocar palavras. O visual é muito importante e lampejos bruxuleantes de um rubi profundo podem evocar sentimentos. Isso não basta, contudo. O papo deve fluir com notas aromáticas inesperadas, que nos surpreendam a cada instante. Tudo pode acabar por aí, ou prosseguir com contatos ulteriores. O final pode ser longo, denso, cheio de toques e repiques. Ou pode ser curto, magro e repentino. Se a experiência nos agrada, voltamos para conversar mais e mais. Se não há sincronia, partimos para outra.
Alguns estão irremediavelmente oxidados, destroçados pelo passar do tempo. Outros ostentam rótulos elegantes, mas seu interior está carcomido pelo TCA. Às vezes, nos surpreendemos pela atração vinda de onde menos se espera. Alguns passam com rapidez de cometa. Outros permanecem como estrelas-guia. Cada qual com suas virtudes e seus defeitos faz parte da inigualável experiência do viver, diante da qual os exemplos e lições de amigos e mestres servem de guarida e impulso.       

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