sábado, 8 de janeiro de 2011

Um Valpolicella anabolizado: Ripasso - Ca`Rugate - 2008

    O Valpolicella está para o Vêneto como o Chianti está para a Toscana. Duas denominações famosas, altamente reconhecidas, de grandes volumes de produção e que nem sempre trazem a qualidade que se espera. Mas, na massa de Valpolicellas produzidos, há um tipo especial. É o Ripasso, nome de uma técnica especial que consiste em deixar um Valpolicella comum em contato com os bagaços das uvas desidratadas do Amarone, o vinho mais nobre da região. Com mais "comida" à disposição, as leveduras continuam seu trabalho, produzindo mais álcool, e dando mais corpo ao vinho. É basicamente um Valpolicella "bombado" com o perdão da palavra.
    A Azienda Ca`Rugate é um tradicional produtor de Amarones e Soaves. A família Tessari cultiva seus vinhedos desde o início do século passado, mas o nome Ca`Rugate foi criado apenas em 1986, por parte dos filhos de Fulvio Tessari, o patriarca, quase centenário, que continua na ativa. Temos um corte de 40% Corvina, 30% Rondinella e 30% Corvinone. Metade do vinho passa oito meses em madeira. Álcool a  14%.
    O visual é de um rubi bastante leve e transparente. No nariz temos dois grandes componentes: frutas vermelhas (cereja, morango e framboesa) muito evidentes e elegantes e um alcaçuz amadeirado. Por vezes sentimos também um perfume etéreo, que, por falta de melhor descrição, lembra aqueles purificadores de ambiente. Na boca traz muito açúcar e sabores intensos e marcantes de frutas. Muito potente, domina completamente o palato, bem estruturado. Taninos muito discretos, mas não fazem falta. Persistência média.
    Este vinho me coloca numa situação difícil: é bem feito, traz um belo caráter de frutas, mas também muito açúcar e... alcaçuz. Quem acompanha este blog sabe que eu tenho um trauma infantil: xarope para tosse. Quando criança tinha crises terríveis de tosse. E alcaçuz me remete imediatamente às longas noites não dormidas, tossindo sem parar. Portanto, não deixem de procurar e experimentar este vinho ou outros Valpolicella Ripasso, mas ele simplesmente não faz meu tipo. Esse é o aspecto mais mistificante do vinho: como uma simples taça pode evocar memórias de um passado obscuro e enterrado, contribuindo para um infinito processo de auto-conhecimento.  

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