Um Barolo e uma prosa...

    O Barolo é diferente de tudo que estamos acostumados. Nada de frutas evidentes, taninos macios ou longos períodos em barricas de primeiro uso, pelo menos para os produtores mais tradicionalistas. Nada de pressa ou correria. Estes vinhos são já senhores de uma certa idade, que pedem calma e circunspecção.

    Eis que um grande amigo nos deu a rara oportunidade de provar uma dessas jóias italianas. Era uma criação de Luigi Pira, definido por Mr. Robert Parker como “One of Piedmont’s new superstars… these are wines of extraordinary complexity and breathtaking richness. The spectacular offerings from Pira ’s vineyards in and around Serralunga d’Alba are among the more riveting examples.” A vinícola nasceu em 1950, quando ainda vendia toda a sua produção de uvas. O primeiro Barolo veio só em 1993 e, a partir de então só fez crescer no conceito da crítica especializada, principalmente pelos “single-vineyard” Marenca, Margheria e Rionda. O vinho de hoje é um Barolo mais “básico”, que provém das parcelas menos nobres dos vinhedos. Estagiou por 24 meses nos tradicionais barris de 25 hectolitros.  

    A coloração é típica do Barolo: um granada intenso que mostra toda a evolução ao longo dos oito anos em garrafa. Pouco depois de aberto estava ainda fechado: muito couro, ferrugem e um toque mineral de terra. Depois de algumas horas no decanter, se transformou: surgiram interessantes notas de frutas secas e um intrigante floral que não consegui identificar com precisão. Em boca, descrevê-lo como muito estruturado e absurdamente tânico seria eufemismo. Provavelmente a maior profusão de taninos por mililitro que já tive a oportunidade de experimentar: se não acompanhá-lo com alguma comida bem suculenta fica até difícil falar. Certamente poderia esperar mais alguns anos em garrafa. Um elegante combinado de flores e passas permanece num final relativamente prolongado. Nem sinal dos 14% de álcool. Um ótimo vinho, fiel à tradicional filosofia italiana do Barolo.