Em mais um dos já célebres eventos da Casa Rio Verde, tivemos a oportunidade de conhecer as propostas da Lídio Carraro, vinícola fundamental no recente processo de melhoramento gradual do vinho brasileiro. A autointitulada “vinícola boutique” produziu sua primeira safra em 2002 e, atualmente, graças a uma combinação de dedicação técnica e ampla divulgação, desfruta de amplo reconhecimento internacional. A filosofia da casa, com a qual me identifico plenamente, é a busca da máxima expressividade de uva e terroir. Esse objetivo levou à renúncia ao uso de madeira em toda a gama da vinícola, atitude a um só tempo louvável e corajosa, tendo em vista como o gosto madeirístico exacerbado está difundido na América do Sul. Surpreendentemente, como veremos, a falta de madeira não faz falta alguma, nem mesmo nas propostas mais estruturadas, destinadas a longos períodos de estágio em garrafa. Os simpáticos representantes da vinícola, o diretor comercial Juliano Carraro e a enóloga Mônica Rossetti, ressaltaram que não nutrem nenhuma desconfiança inata ao uso de madeira e que optaram por essa filosofia por preferência pessoal. Aos múltiplos prêmios e reconhecimentos internacionais obtidos, juntou-se, recentemente, o licenciamento da vinícola pela FIFA para produzir o “vinho da copa”. Trata-se do projeto Faces, que analisamos a seguir:



Dádivas Chardonnay 2012 - Já tinha ouvido falar muito bem sobre essa linha Dádivas e pude, finalmente, conhecê-la de perto. Coloração intensamente dourada-amarelada. No nariz, muita fruta branca (pêra, maçã-verde) madura, polpuda e carnuda. Por vezes, algo de maracujá também aparece. Em boca, repete todo o comportamento e o perfil aromáticos: um vinho gordo e suculento, com um bocado de açúcar residual. É como mastigar uma salada de frutas brancas com mel. Uma delícia, já que não falta acidez para contrabalançar o açúcar. Um belíssimo exemplo de como é possível fazer Chardonnays corpulentos sem recorrer a longos períodos em madeira.
Dádivas Pinot Noir 2012 - A Pinot sempre foi, e acredito que sempre será, um grande mistério para mim, já que tive pouquíssimas oportunidades de provar bons vinhos feitos com ela. Trata-se de uma variedade que simplesmente não conheço bem. De todo modo, tive a oportunidade de expandir um pouco mais minha bagagem pinorística com este Dádivas, rapidamente incluído pela Mônica nos trabalhos degustativos. Visual rubi bem leve e translúcido, que reflete o jeito Pinot de ser. No nariz, mudava rapidamente a cada vez que eu o provava. Ora estava vegetal, lembrando menta, ora frutado, com algo de cereja, ora um certo couro aparecia. Fiquei confuso. Em boca pareceu menos misterioso, trazendo calma e pacificamente frutas vermelhas. Leve e agradável, sem parecer um Syrah nem desaparecer feito água, como muitos Pinots mal-feitos.
Agnus Cabernet Sauvignon - Já havia provado essa interessante proposta de entrada da Lídio Carraro. Visual rubi intenso, quase completamente opaco. No nariz temos frutas negras maduras e especiarias (pimenta do reino). Segundo Juliano e Mônica, o objetivo aqui foi evitar o excesso de pirazinas, substância responsável por conferir ao Cabernet Sauvignon o aroma verde de pimentão. Realmente, não havia nada de exagero nesse sentido. Em boca, tem corpo médio, trazendo a esperada expressão frutada. Taninos macios e final médio. Bom vinho.
Agnus Cabernet Sauvignon - Já havia provado essa interessante proposta de entrada da Lídio Carraro. Visual rubi intenso, quase completamente opaco. No nariz temos frutas negras maduras e especiarias (pimenta do reino). Segundo Juliano e Mônica, o objetivo aqui foi evitar o excesso de pirazinas, substância responsável por conferir ao Cabernet Sauvignon o aroma verde de pimentão. Realmente, não havia nada de exagero nesse sentido. Em boca, tem corpo médio, trazendo a esperada expressão frutada. Taninos macios e final médio. Bom vinho.

Grande Vindima Merlot 2006 - Ao final, não poderia faltar esta célebre linha da Lídio Carraro, responsável por grande parcela de seu sucesso internacional. Elaborado apenas em safras realmente merecedoras, o Grande Vindima vem em três versões: um blend de Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat, denominado Quorum; um Tannat e um Merlot, que provamos. No visual, uma combinação de rubi intenso e opaco, no centro, com claros halos alaranjados, que denotavam evolução. No nariz, um complexo perfil com frutas secas, couro, ferro, ferrugem e um indecifrável elemento que conjugava notas terrosas, algo como uma caverna com musgos e minério. Em boca, traz múltiplas camadas de frutas como ameixa e amora junto a café e couro. Final longo, macio, agradável e equilibrado.
Mais uma vez, só resta mesmo agradecer ao pessoal da Casa Rio Verde por mais uma oportunidade de aprender com um produtor nacional de primeira linha!
Mais uma vez, só resta mesmo agradecer ao pessoal da Casa Rio Verde por mais uma oportunidade de aprender com um produtor nacional de primeira linha!
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Toda a família Lídio Carraro |
Gostei do post parabéns! Mas engraçado, degustei o Faces branco e realmente me surpreendeu, tanto nos aromas, quanto em boca. Confesso que degustei o vinho com temperatura um pouco mais elevada do que o recomendado. Talvez isso tenha feito a diferenca.Veja o post em:
http://blogdovinho.com/2013/06/28/degustei-em-primeira-mao-o-vinho-da-copa-2014-faces-da-lidio-carraro/
Abracos e sucesso,
Alessandra
Muito obrigado, Alessandra!
Realmente, creio que pode ter sido um problema de temperatura muito baixa. Vale a pena provar de novo!
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