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Fábio Baptista
1999. Este que vos escreve contava apenas 12 primaveras. Se provasse vinho, provavelmente faria careta e voltaria para sua Coca-Cola. Enquanto estava às voltas com meus primeiros “refinamentos gastronômicos”, tudo por obra e graça de um certo tio, cresciam as uvas Merlot (90%) e Cabernet Franc (10%) que comporiam este típico claret da margem direita do Gironde. 12 anos depois, eis que recebo de presente, do mesmo tio, uma garrafa deste Cru. Na verdade, uma baita responsabilidade, já que minha experiência com vinhos, digamos, mais pomposos, é bastante limitada.
Os diversos vinhedos que compõem a propriedade Latour a Pomerol foram adquiridos em 1917 por Madame Edmond Loubat, que controlava também o mítico Petrus. Em 1961, a vinícola foi herdada por sua sobrinha, Lily Lacoste. 41 anos depois, Lily doou Latour a Pomerol para uma instituição de caridade, não sem alguma dose de escândalo envolvendo algumas garrafas de Petrus.
Esta safra 1999 recebeu 89 pontos de Robert Parker e 88-89 da International Wine Cellar. Um terço do vinho passou por barris de carvalho de primeiro uso. Segundo a tabela de safras do velho Bob, está pronto para beber. Foi o que tratamos de fazer, sem maiores delongas.
A coloração logo evidencia a idade, bordas ocres mas ainda rubi opaco no centro. No nariz uma poção de couro, ferrugem, café, ameixas secas, tabaco e pimenta do reino. Em boca é bem carregado nas notas obscuras de café e terra. Final longo com um certo caramelo, absoluto equilibrio do alcool.
Provar este vinho é como fazer uma viagem ao passado, para um mundo repleto de canos enferrujados e com poeira por todos os lados. Taninos impressionam por ainda estarem presentes 12 anos depois, o que é ainda mais significativo vez que se trata basicamente de um Merlot. De vez em quando é bom revisitar vinhos já evoluídos. São mais pensativos e enigmáticos do que as bombas de juventude às quais estamos acostumados.
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